O ano era
2005. Eu, depois de pensar e repensar muito, decidi encarar os meus medos. Sim,
um dia eu tive medo de trabalhar com cabelos. Todas aquelas técnicas,
necessidades, cabelos diferentes, mulheres, e personalidades diferentes, e
ainda precisando ter um resultado impecável, afinal nossa matéria prima é a
beleza das pessoas!!
Mas isso é outra história, que eu conto outra hora!
Desde o meu
início com cabelos sempre me encantei com a possibilidade de ensinar. Eu ia nos
cursos e me apaixonava com a possibilidade de estar num palco, expressando o
melhor do hair Style.
Eu já
gostava muito de químicas capilares, e resolvi assistir a uma palestra de uma
nova marca de alisamentos. O produto era bom, inovador, e aquilo mexeu comigo.
Assistindo aquele “cara” falando, eu me enxerguei ali. Imaginando como falaria
cada técnica, como explicaria cada procedimento, me projetei naquele momento.
Logo no
início, percebi que o sujeito não era um dos mais educados que já tinha visto.
O produto era ótimo, prometia maravilhas. Mas em 15 minutos de curso ele já
havia maltratado duas coitadas assistentes.
- Você não sabe fazer isso melhor?
Sai daqui que eu mesmo faço então!
A menina
saiu atônita sem saber que caminho seguir.
- Será que pode ficar aqui, eu pago
você para quê?Volta e me ajuda aqui!
Metade da plateia
levantou, xingando em protesto o destrate de “cima à baixo”, não por menos.
Eu só podia enxergar
uma coisa: o produto era tão bom, tão bom, que eu só queria aprender tudo
sobre, e virar um técnico desta marca!
Voltei para
casa decidido, vou virar expert nisso!
Minha mãe, e
eu, começamos a usar o tal produto. Segui todas as orientações, chamei algumas
modelos para fazer uns testes, estudei incansavelmente cada parágrafo da
apostila. Semanas depois eu falei para minha mãe:
- Mãe, eu vou falar com aquele cara,
eu quero ser técnico!
No curso
seguinte lá estava eu, bem faceiro sentadinho, examinando cada palavra que o
palestrante falava, não podia perder uma vírgula!
A forma como tratava os
funcionários não era o ponto forte deste palestrante, e continuou sendo ponto
comum.
Eu mal podia
esperar pela pausa do coffee breack. Meu plano era no intervalo ir diretamente
falar com o tal, obviamente antes dele começar a “descascar” alguma assistente.
Depois de
uma hora de curso, o assunto era mais ou menos assim:
- Cada dia é mais difícil encontrar
pessoas qualificadas para dar cursos, as pessoas são muito incompetentes, eu
tenho que ensinar tudo!!
Na hora
passou na minha cabeça:
- Hey, eu estou aqui para isso!
Terminou a primeira
parte. Todos levantavam e iam até o fundo da sala, onde estava o café. O meu
caminho era outro, o oposto. O meu objetivo já estava bem claro, minha missão
era chegar o mais rápido possível nesse sujeito, que também era o dono da
marca, antes que ele pegasse uma funcionária para xingar.
O mais
engraçado nessas situações, é que parece que vai dar tudo errado. O cara já era
um “cavalo”, metade dos cabeleireiros de Porto Alegre odiava ele, mas eu não
estava nem aí para isso. Lá fui eu.
-Olá, meu nome é Guilherme, sou muito
admirador desse produto, e quero me tornar um técnico da marca!
Eu não
lembro de ter visto uma cara maior de desaprovação do que esta. O sujeito me
olhou de cima abaixo, com claro olhar de desdém.
- Porque você acha que pode ser
técnico da minha marca? O que você sabe fazer?
- Eu estudei um pouco, e sei
absolutamente tudo sobre a marca, e posso fazer um curso tão bom quanto o seu!
Momento de
silencio.
- Quer dizer que você pode dar um
curso tão bem quanto eu?
- Sim.
- Então te prepara, porque daqui há
dois dias preciso de alguém para dar um curso em Canoas, aí eu quero ver como
você se sai!
E assim
começou a minha história nos cursos.