terça-feira, 5 de novembro de 2013

==HISTÓRIAS DE CABELEIREIRO==



O ano era 2005. Eu, depois de pensar e repensar muito, decidi encarar os meus medos. Sim, um dia eu tive medo de trabalhar com cabelos. Todas aquelas técnicas, necessidades, cabelos diferentes, mulheres, e personalidades diferentes, e ainda precisando ter um resultado impecável, afinal nossa matéria prima é a beleza das pessoas!! 
Mas isso é outra história, que eu conto outra hora!
Desde o meu início com cabelos sempre me encantei com a possibilidade de ensinar. Eu ia nos cursos e me apaixonava com a possibilidade de estar num palco, expressando o melhor do hair Style.

Eu já gostava muito de químicas capilares, e resolvi assistir a uma palestra de uma nova marca de alisamentos. O produto era bom, inovador, e aquilo mexeu comigo. Assistindo aquele “cara” falando, eu me enxerguei ali. Imaginando como falaria cada técnica, como explicaria cada procedimento, me projetei naquele momento.
     Logo no início, percebi que o sujeito não era um dos mais educados que já tinha visto. O produto era ótimo, prometia maravilhas. Mas em 15 minutos de curso ele já havia maltratado duas coitadas assistentes.

- Você não sabe fazer isso melhor? Sai daqui que eu mesmo faço então!

A menina saiu atônita sem saber que caminho seguir.

- Será que pode ficar aqui, eu pago você para quê?Volta e me ajuda aqui!

Metade da plateia levantou, xingando em protesto o destrate de “cima à baixo”, não por menos.
     Eu só podia enxergar uma coisa: o produto era tão bom, tão bom, que eu só queria aprender tudo sobre, e virar um técnico desta marca!
Voltei para casa decidido, vou virar expert nisso!

     Minha mãe, e eu, começamos a usar o tal produto. Segui todas as orientações, chamei algumas modelos para fazer uns testes, estudei incansavelmente cada parágrafo da apostila. Semanas depois eu falei para minha mãe:

- Mãe, eu vou falar com aquele cara, eu quero ser técnico!

    No curso seguinte lá estava eu, bem faceiro sentadinho, examinando cada palavra que o palestrante falava, não podia perder uma vírgula!                                             
A forma como tratava os funcionários não era o ponto forte deste palestrante, e continuou sendo ponto comum.
     Eu mal podia esperar pela pausa do coffee breack. Meu plano era no intervalo ir diretamente falar com o tal, obviamente antes dele começar a “descascar” alguma assistente.
     Depois de uma hora de curso, o assunto era mais ou menos assim:

- Cada dia é mais difícil encontrar pessoas qualificadas para dar cursos, as pessoas são muito incompetentes, eu tenho que ensinar tudo!!

Na hora passou na minha cabeça:

- Hey, eu estou aqui para isso!

     Terminou a primeira parte. Todos levantavam e iam até o fundo da sala, onde estava o café. O meu caminho era outro, o oposto. O meu objetivo já estava bem claro, minha missão era chegar o mais rápido possível nesse sujeito, que também era o dono da marca, antes que ele pegasse uma funcionária para xingar.
     O mais engraçado nessas situações, é que parece que vai dar tudo errado. O cara já era um “cavalo”, metade dos cabeleireiros de Porto Alegre odiava ele, mas eu não estava nem aí para isso. Lá fui eu.

-Olá, meu nome é Guilherme, sou muito admirador desse produto, e quero me tornar um técnico da marca!

    Eu não lembro de ter visto uma cara maior de desaprovação do que esta. O sujeito me olhou de cima abaixo, com claro olhar de desdém.

- Porque você acha que pode ser técnico da minha marca? O que você sabe fazer?
- Eu estudei um pouco, e sei absolutamente tudo sobre a marca, e posso fazer um curso tão bom quanto o seu!

Momento de silencio.

- Quer dizer que você pode dar um curso tão bem quanto eu?
- Sim.
- Então te prepara, porque daqui há dois dias preciso de alguém para dar um curso em Canoas, aí eu quero ver como você se sai!


E assim começou a minha história nos cursos.